domingo, 30 de junho de 2013

Ótimo elenco e direção competente salvam “Amor à Vida” de seu texto declamado


Mateus Solano e Antônio Fagundes em cena de “Amor à Vida” (Foto: Divulgação/TV Globo)



Passado o entusiasmo inicial com “Amor à Vida” – diante de uma direção inspirada na primeira semana de exibição, e de um vilão, a princípio, cativante (Félix de Mateus Solano) -, a trama de Walcyr Carrasco por fim revelou um apanhado de boas histórias e alguns bons personagens tentando se equilibrar em um texto escorregadio.


O autor é conhecido pela falta de sutileza nas falas de seus personagens e, muitas vezes, pelas frases clichês em situações piegas. Combina com as comédias de época das seis (vide “O Cravo e a Rosa”, “Chocolate com Pimenta” e “Alma Gêmea”). Mas pesa um pouco em um drama contemporâneo. Não fossem alguns núcleos de humor, “Amor à Vida” seria um dramalhão de marca maior.


O melodrama é inerente ao folhetim e a trama central de “Amor à Vida” é um prato cheio para uma boa novela. Somado a isso, um elenco de primeira faz valer qualquer deslize no texto. Carrasco é mestre em costurar suas tramas de forma a envolver o telespectador. Vide a relação extraconjugal de César (Antônio Fagundes) com a carreirista Aline (Vanessa Giácomo), que vai revelando aos poucos que o médico não é tão bonzinho assim. Atílio (Luís Mello) é outro personagem interessante que pode render: deixa o público na dúvida se seus surtos de memória são propositais ou não. Glauce (Leona Cavalli) também é uma personagem em potencial – seria bom se daqui em diante ela se revelasse a grande vilã da novela.


Vale destacar também as ótimas interpretações de Susana Vieira e Nathalia Timberg – esta última, há tempo não tinha um papel tão bom em novelas. No lado do humor, apesar de repetitivas as situações de Valdirene (Tatá Werneck) – em que o texto parece ser sempre o mesmo, mudando apenas os famosos, alvo das investidas da personagem -, ela continua dividindo com a mãezoca Márcia (Elizabeth Savalla) ótimos momentos na novela.


Mateus Solano está irrepreensível no papel do vilão Félix. O personagem é, por excelência, um tipo pouco sutil em suas frases, fala o que vem à cabeça, não importa a quem ou a situação. É espirituoso. Mas alguns excessos – mais a exaustiva repetição de seus bordões “pelas contas do rosário” e “salguei a santa ceia” – deixam o personagem à margem do limite entre a caricatura legal e a chatice insuportável.


Nas falas de Félix, dá para perceber que Solano dita palavra por palavra do que Carrasco escreve. O texto do autor soa declamado nas falas de seus personagens, já que ele não gosta de cacos (a contribuição do ator nas falas). Só mesmo bons atores (como os citados acima), em uma direção competente, dão conta de contornar diálogos que poderiam parecer teatrais ou pouco condizentes com a proposta naturalista da novela.






via Blog do Nilson Xavier

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